segunda-feira, 15 de abril de 2024

Mais coisas que me irritam

Ao longo destes quase doze anos de crónicas no Notícias de Coura, já por três vezes tive o descaramento de escrever sobre coisas me irritam, sei bem que para muitos dos leitores isso até pode não ter interesse, mas, se forem como eu, a curiosidade é bem capaz de vos fazer ler até ao fim. No final, poderão estar a rir e pensar que também vocês se irritam com coisas parecidas ou então, lamentar o tempo perdido e pensar: - “Estive eu a perder cinco minutos com estes disparates!” Neste caso, fica sempre o ganho da leitura, que é o caminho mais curto para o conhecimento. *

Podia acrescentar aqui meia dúzia de linhas enumerando as minhas anteriores irritações, mas deixo à consideração dos leitores ir procurá-las no meu blog, caso tenham curiosidade em saber quais eram e ainda são. Aposto que muitas delas, são também coisas que vos irritam. Vamos então às mais recentes:

1. Condutores que fazem pisca nas rotundas! Refiro-me obviamente aos que fazem pisca para a esquerda e seguem em frente! Por vezes eu também faço pisca para a esquerda, mas é quando pretendo virar para a esquerda! Irritam-me antes da rotunda, embora já não me irritem depois, quando a meio da rotunda fazem pisca para a direita! Enfim, querem seguir em frente, mas experimentam fazer pisca para os dois lados, quase me apetecia escrever aqui uma piada política, mas prometi na anterior crónica que iria deixar a política por uns tempos.

2. Coisas à venda sem preço! Na rede social facebook são uma praga. Mesmo nos grupos de vendas onde a colocação dos preços é obrigatória, são inúmeras as pessoas que insistem em fazê-lo, depois têm mil comentários a perguntar o preço, e têm de responder mil vezes: “enviei mensagem privada.” Na grande maioria dos negócios o fator decisivo é o preço, é aquele que pode desde logo chamar a atenção dos interessados. Quando não é apresentado, deixa de ser um fator decisivo. Para mim, e acredito que para muitos outros interessados, é logo um fator de afastamento.

3. Oferecerem-me bolos ou garrafas de água quando peço um café. Tem-me acontecido ultimamente nas estações de serviço das autoestradas. Depois de pedir um café oiço sempre: “Não que acompanhar com uma nata? E uma garrafa de água?”. Das primeiras vezes ainda respondia que não, que era só o café, ultimamente limito-me à palavra “CAFÉ”, e sim, pronunciada um bocadinho mais alto; temo um dia destes ser vencido pelo meu mau feitio e dizer mais qualquer coisa. (Parei de escrever por uns minutos, fui à Internet e comprei uma minigarrafa térmica. Não volto a parar para tomar café!)

4. Receber certas notificações no facebook. Ter um perfil numa rede social faz-nos perder obviamente alguma privacidade e sossego, mas só se não soubermos ser cuidadosos. Ser notificado porque alguém comentou uma publicação nossa, ou gostou de algo que publicámos é normalmente agradável. As que ultimamente me têm irritado são aquelas com as hashtags @seguidores ou @destacar. Quem as faz tem a certeza de chegar a toda a gente, mas para quem as recebe podem simplesmente não ter interesse nenhum. Já deixei de seguir alguns grupos por causa disto. É que usarem-nas de vez em quando ainda se percebe, mas todos os dias é insuportável.

5. Noticiários televisivos. Adoro ver os canais de notícias portugueses, a minha televisão passa horas e horas ligada na SIC Notícias e na CNN Portugal, onde tenho muitas vezes pena de não conseguir ouvir simultaneamente os programas de debate e comentário político. Aquilo que me irrita profundamente são os noticiários principais do dia, tantas vezes me acontece mudar de canal porque não me apetece ouvir falar do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, por exemplo. Não adianta mudar, têm quase sempre o mesmo alinhamento, e com diferenças de segundos as notícias são repetidamente as mesmas. É nestas alturas que vejo pela centésima vez os episódios do inspetor Max na TVI ficção!


E chega de irritações. Prometo só voltar a este tema daqui a dois ou três anos. Entretanto, vou começar já a pensar na próxima crónica, isto de ter prometido deixar a política de lado durante uns tempos está a deixar-me nervoso. Apetecia-me tanto escrever sobre certas coisas! 

* Aristóteles.

Crónica publicada na edição 476 do Notícias de Coura, 9 de abril de 2024

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Chega de eleições.

Gosto imenso de acompanhar as noites eleitorais nos canais televisivos, só tenho mesmo pena de não conseguir ver e ouvir todos os comentadores ao mesmo tempo! Se tivesse paciência para tirar apontamentos ficaria com um rol imenso de contradições e de curiosidades para conseguir escrever meia-dúzia de crónicas! Para ser mais fácil e até mais interessante para os leitores, vou dividir este texto em tópicos, podem assim ler apenas aqueles que forem do vosso interesse.

Abstenção: Costuma ser uma das grandes preocupações dos comentadores e dos políticos. Uma abstenção elevada é sempre um bom argumento para qualquer tipo de resultado, quer se ganhe, quer se perca, embora normalmente nunca ninguém perca no nosso país. Desta vez, a abstenção baixou significativamente e isso beneficiou o partido Chega. Antigamente a abstenção era associada à falta de interesse pela democracia, agora é vista como como responsável pela mudança do sentido de voto dos portugueses, em direção a ideais ditatoriais. Dizia um comentador ainda antes das projeções: “Ainda vamos chegar ao final da noite a lamentar a descida da abstenção.”

Jovens: Ao que parece, os jovens voltaram a interessar-se pela política e não ficaram em casa. Ao que parece também, grande parte do eleitorado do partido Chega foi a classe etária abaixo dos 35 anos. Que irão dizer agora aqueles que acusavam os jovens de serem pouco interessados e pouco participativos na política do país? Como lhes explicar que têm de se interessar, mas não nessa direção!? Que lhes irão responder se eles questionarem: - “Mas então, a democracia não é mesmo isto!?”

ADN: Este partido subiu de dez para cem mil votos! Beneficiou claramente do descuido de muitos portugueses que certamente pretendiam votar na AD. Ou será que foi ao contrário? Como disse o seu líder: “Será que os portugueses não quereriam votar no ADN, e enganaram-se e votaram na AD?” Eu até acredito mais nesta última hipótese, o seu líder Bruno Fialho defende a reabertura do Tarrafal para enviar para lá tudo o que é bandidos, corruptos, homossexuais, estrangeiros… Ao pé do ADN, o Chega é inofensivo!

BE e PCP: Caíram no erro de passar a campanha toda a defender uma solução de esquerda e a colocarem-se prontos para dar a mão ao PS para uma nova geringonça. O resultado mostra que neste momento já servem para muito pouco. Escrevo isto com respeito, pois já em tempos e em diferentes tipos de eleições votei nestes partidos. Entristece-me ver o PCP desaparecer e continuar a insistir no mesmo discurso e nas mesmas posições. Ou é desta que se reinventam, ou nas próximas eleições desaparecem de vez.

PS e PSD: Ajudaram a criar o monstro, agora correm o risco de ser comidos por ele. O fim do bipartidarismo parece ser uma realidade e, com o avanço da chamada extrema-direita correm o sério risco de um deles desaparecer. Veja-se o que aconteceu em França. E está a acontecer na Europa.

Chega: Obviamente que foi o grande vencedor das eleições. Sentia-se claramente que teria mais votos e mais deputados, mas nem nos seus melhores sonhos André Ventura imaginou este resultado. Ter mais de um milhão de votos e quase cinquenta deputados é um resultado estrondoso. Nos últimos dias tenho visto muitos políticos, comentadores e jornalistas a relativizar estes números e a insistir na ideia de que o Chega pode não ser preciso para nada, nem para ninguém. Parece-me uma postura pouco democrática e muito arriscada. Este fenómeno pode não ser momentâneo.

Perdoem-me os partidos que não citei, mas o espaço para o texto começa a ficar pequeno e a minha paciência para a política é cada vez menos. (Mas não posso deixar de agradecer à política os tantos e tantos motivos que me tem dado para escrever!) Não prometo, mas vou tentar deixá-la fora das minhas crónicas durante uns tempos. A ela voltarei se se atreverem a não devolver o tempo de serviço aos Professores, promessa feita por todos os partidos, até por aqueles que tiveram a possibilidade de o fazer, e não fizeram.


Crónica publicada na edição 475 do Notícias de Coura, 26 de março de 2024

segunda-feira, 18 de março de 2024

Coisas e coisinhas!

Esta é uma daquelas crónicas em que deixei os dias passar à espera de que algo de estrondoso acontecesse e me servisse de inspiração. O tempo passou e nada aconteceu. Nada digno de uma crónica inteira, mas muitas coisinhas que talvez cheguem para encher página e meia. Vamos lá então!

Sobressaltos na campanha: a campanha eleitoral está na estrada, beijinhos, abraços, as promessas habituais, o falar mal dos outros partidos, enfim, nada de novo. Luís Montenegro foi atacado com tinta verde numa ação de protesto reivindicada pelos ativistas do movimento 'Fim ao Fóssil'. Julgo que já numa anterior crónica exprimi a minha indignação com este tipo de protestos idiotas, muitos deles levados a cabo por jovens instrumentalizados por determinados partidos políticos. Não é assim que se defende uma causa, aliás, alguns destes jovens nem sabem sequer qual é a causa. Fiquei surpreendido quando fiz pesquisas sobre este assunto ao descobrir que é fornecido a estes jovens um manual com orientações sobre o que fazer quando são detidos, como provocar a polícia, quais os crimes. que podem cometer e a terem escrito o número do advogado no corpo. Já me apetece meter estes grupos de arruaceiros no mesmo saco de algumas claques de futebol.

A comitiva do PS também teve também encontros pouco saudáveis. Aos impropérios e gestos obscenos de um homem numa varanda responderam atirando uma bandeira e um guarda-chuva, acabaram por levar com um vaso. Se o cidadão está descontente com o partido pode exprimi-lo de forma educada e concretizar esse descontentamento no boletim de voto. Pouco depois, alguns carteiristas trataram de fazer pela vida nas ruas estreitas de Guimarães e assaltaram alguns elementos da comitiva. Como diz o ditado, “A ocasião faz o ladrão.” Dei comigo a pensar: “Na altura da campanha eleitoral os políticos sujeitam-se a cada coisa.”

André Ventura denunciou uma publicação de um militante do Bloco de Esquerda que falava que iria anular votos do Chega na contagem dos mesmos. Para evitar estas coisas é que todos os partidos têm os seus delegados nas assembleias de voto. Mas não sejamos inocentes, já há muitos anos que estas artimanhas se passam nalgumas mesas de voto, ainda me lembro do truque de ter no bolso um lenço sujo com tinta, de vez em quando mete-se a mão ao bolso, suja-se um dedo, e na contagem suja-se um boletim de voto, tornando-o nulo. Estas coisas aconteciam nas décadas de oitenta e noventa. Esclareço desde já que nunca estive em nenhuma mesa eleitoral, e, portanto, não vi. Mas aconteceu.

O prémio Pinóquio: Após os muitos debates televisivos entre todos os candidatos, o Observador deu-se ao trabalho de enumerar todas as falsidades e imprecisões dos candidatos e eleger o “Pinóquio” das eleições legislativas! Não é de admirar que tenha ganho André Ventura, o que é assustador é que Pedro Nuno Santos tenha ficado a apenas um ponto e Luís Montenegro a dois! É assustador pensar que um deles será o próximo 1.º Ministro. Um deles, dos últimos dois enunciados!

De volta à América: O Supremo Tribunal dos Estados Unidos considerou que Donald Trump não pode ser impedido de ser candidato às eleições presidenciais, apesar do processo em que está envolvido sobre a invasão ao Capitólio. Em novembro os americanos irão eleger o próximo presidente com a certeza de que será o mais velho de sempre, seja Trump ou Biden. Voltarão os americanos a surpreender o mundo? Não creio, elegerem de novo Trump não será surpresa nenhuma.

Vergonha benfiquista: O Benfica foi jogar ao Estádio do Dragão e perdeu por 5-0 com o Porto. Perder seria sempre um mau resultado, por estes números colocou a nação benfiquista com as miras apontadas a Roger Schmidt. Não sou adepto do Benfica e compreendo a frustração e até alguma vergonha por perder desta forma. Compreendo também que aqueles que percebem de táticas critiquem o treinador, mas, ainda assim, o Benfica está com mais seis pontos que o Porto e a lutar pelo título. Tomara eu que o meu Chaves, depois de na mesma jornada ter perdido por 5-1 com o Arouca, estivesse com mais seis pontos que eles!



Crónica publicada na edição 474 do Notícias de Coura, 12 de março de 2024

terça-feira, 5 de março de 2024

Espero ou não pelo debate?

É segunda-feira dezanove de fevereiro. Tenho como tarefa fundamental para este dia a escrita e envio da minha crónica número cento e oitenta para o Notícias de Coura. Posso fazê-lo até ao dia seguinte, mas outras tarefas ditam que o faça hoje. Começo por dar uma vista de olhos às capas de jornais, a blogs sobre atualidade e política e ligo a televisão na SIC notícias. Alguns assuntos dominam a atualidade: a morte de Alexei Navalny, a indignação de José Sócrates perante o abuso das juízas em mudarem os factos e a qualificação de um crime que lhe é imputado, ainda se ouvem algumas coisas sobre a guerra na Ucrânia e na Palestina mas, o assunto que domina a atualidade é mesmo o debate desta noite entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos. Até à hora de almoço não se ouve mais nada. Entrevistam-se pessoas nas ruas, questionam-se os comentadores para fazerem as suas apostas, fazem-se balanços dos debates feitos até agora, apresentam-se sondagens e até memórias de outros debates entre candidatos destes partidos a primeiros-ministros. Sou tentado a fugir a este assunto e ensaio alguns parágrafos.

Morreu há três Alexei Navalny. O mais temido opositor de Vladimir Putin tinha em tempos sido envenenado. Depois de uma difícil recuperação num hospital alemão decidiu voltar ao seu país. Obviamente que foi imediatamente preso. Desde aí pouco mais se soube. Condenado a dezanove anos de prisão estava numa cadeia no Ártico. Como morreu ainda não se sabe, mas não é difícil imaginar. (Opositores de Putin têm morrido envenenados, caindo de janelas ou terraços, talvez Navalny se tenha descuidado e caído das escadas.) Até ao terceiro dia, nem a mãe de Navalny nem os seus advogados tiveram acesso ao corpo. As autoridades russas apenas adiantam que foi aberta uma investigação. Ao mesmo tempo, prendem quem nas ruas lhe quer prestar homenagem e limpam constantemente as flores que lhe vão sendo deixadas nalguns memoriais que espontaneamente vão surgindo. É o regime russo. Aquele que muitos países não condenam. Aquele que muitos políticos admiram.

José Sócrates viu o Tribunal da Relação de Lisboa reverter parcialmente a decisão do Juiz Ivo Rosa e mandou o ex-primeiro-ministro ser julgado por vinte e dois crimes, três de corrupção, treze de branqueamento de capitais e seis de fraude fiscal. A sua defesa reclama a nulidade da decisão e a distribuição a um novo coletivo de juízes. Alegam que duas das três juízas deixaram de pertencer à instância de Lisboa, logo não poderiam assinar aquela decisão. Ao mesmo tempo, José Sócrates fala em alteração do conteúdo da acusação. Seja por um lado ou por outro, adivinham-se mais recursos e mais demoras. Até que este caso transite em julgado, já cada vez menos pessoas se lembrarão de quem foi José Sócrates.

Infelizmente, como estes dois assuntos não chegam para completar a página e meia que normalmente escrevo, lá vou ter de dizer qualquer coisa sobre o debate que se avizinha. Não tenho grandes expetativas em ver esclarecidas medidas concretas de atuação num próximo governo, e não me parece que alguém vença claramente e possa assim determinar o rumo da vitória. Montenegro só precisa de deixar o tempo correr e não se exaltar. Pedro Nuno Santos tem estado pouco corajoso, fazia mais oposição ao seu próprio governo quando era comentador político do que faz agora que quer ser 1.º ministro. Pode tentar atacar Montenegro com a falta de experiência dos seus futuros deputados, mas corre o risco de ser acusado de ter feito vários disparates quando era um ministro com uma elevada experiência governativa. Pode fazer lembrar o difícil tempo que os portugueses passaram aquando da troika e do governo de Passos Coelho, mas esse já é um passado longínquo, a troika veio resolver problemas criados pelo governo de José Sócrates. O PS até esteve bem no tempo da geringonça. Desde aí, aumentou a votação, pediu a maioria aos portugueses para uma maior estabilidade. Teve-a, e foi o que se viu.

Já passa das dezoito horas. Vou rever o artigo e enviar. Se por acaso alguma coisa de extraordinário acontecer no debate de logo à noite, escrevo outro texto ainda hoje. Peço ao Tinoco para esquecer este e publicar o próximo. Se estiverem a ler estas últimas frases é sinal de que o debate foi morno e não justificou o esforço de voltar a ligar o computador.



Crónica publicada na edição 473 do Notícias de Coura, 27 de fevereiro de 2024

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Cuidado com a polícia, os agricultores e o macaco!

Em novembro do ano passado o governo aprovou os valores dos suplementos de missão para a PJ. O exercício de funções em condições de risco, insalubridade e penosidade assim o justificava. Na minha opinião, bem. Algum tempo depois, os elementos da PSP e da GNR exigiram um suplemento idêntico. Os protestos que começaram com um agente da PSP a pernoitar em frente à Assembleia da República, alastraram rapidamente a todo o país. O Senhor Ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, só decidiu reagir quando os protestos mexeram com o futebol. O jogo entre o Famalicão e o Sporting não se realizou devido à falta de polícias em número suficiente e antes do jogo houve confrontos entre adeptos e houve feridos. (Obviamente que nada disto aconteceria se quem vai ver o futebol fosse mesmo apenas com esse interesse, mas quando se fala em claques temos de perceber que são um grupo de bandidos e arruaceiros que só querem confusão.) *

José Luís Carneiro convocou de urgência os comandantes da GNR e da PSP, falou em insubordinação dos polícias e anunciou inquéritos de investigação aos atestados médicos dos polícias e às declarações de Armando Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Polícia que admitiu eventuais impactos na realização das próximas eleições legislativas. Na minha opinião é bem mais grave que os polícias não se apresentem nos jogos de futebol do que deixem penduradas as urnas e os boletins de voto nas próximas eleições! Quanto à atuação tardia do Senhor Ministro da Administração Interna quase me apetecia perguntar: - Se José Luís Carneiro tivesse ganho as eleições a Secretário-Geral do PS e fosse candidato a 1.º Ministro, atuaria também desta forma!? Provavelmente não. Ter as forças da autoridade insatisfeitas desta forma e falar em insubordinação é perigoso. Cuidado com a polícia.

Os agricultores andam insatisfeitos, reclamam melhores rendimentos e um justo pagamento dos produtos que vendem, a diminuição dos impostos sobre os fatores de produção e o pagamento de subsídios e incentivos ao investimento em tempo útil. (Infelizmente não é só no setor agrícola que se verifica que o Estado é o pior dos pagadores.) Como se verificou na última semana os agricultores muito facilmente levam o país ao caos, fechando estradas e fronteiras. Não se esqueçam de que as prateleiras dos supermercados não se enchem por artes mágicas. Ao contrário do seu colega da Administração Interna a responsável política, Maria do Céu Antunes, Ministra da Agricultura, agiu quase de imediato, reunindo de pronto com os responsáveis do setor e anunciando algumas medidas. (Sobre a validade e eficácia das mesmas falaremos daqui a uns tempos.) Sem agricultura não há vida. Cuidado com os agricultores.

Em mais uma autêntica operação policial de alto impacto, o Ministério Público faz buscas e prende vários indivíduos ligadas aos Super Dragões, a claque do F.C. Porto, entre eles o seu líder, Fernando Madureira, mas conhecido como Macaco. Este personagem já em tempos se declarou insolvente, alega não ter rendimentos, mas vai de férias para o estrangeiro, tem carros de alta cilindrada e vários imóveis. Para já está detido e à espera de ser ouvido para serem determinadas as medidas de coação. Entretanto a PJ está a investigar uma alegada tentativa de matar o comissário responsável pela detenção de Fernando Madureira. É melhor parar por aqui, quanto mais informação pesquiso, mas coisas destas encontro. Com esta malta da bola é preciso ter cuidado. O último jogo que vi do F. C. Porto foi no Estádio das Antas, em outubro de 1996. A claque do Porto quase nos bateu por termos colocado uma tarja de apoio ao Porto na rede. A rede pelos vistos era deles. Naquele dia disse aos meus dois amigos que “Não mais me iriam ver junto de gente daquela.” E cumpri. Mais vale ir ver o meu Desportivo de Chaves, embora saia de lá sempre triste com as exibições e com os resultados! Cuidado com o macaco.


* O autor não pretende de forma nenhuma ofender os adeptos que pertencem às claques de futebol. O autor apenas o faz porque até à data, nunca teve conhecimento de nada ligado às claques de futebol que se ajuste aos normais comportamentos em sociedade, sempre que se fala em claques, é por causa de agressões, roubos, insultos, e outras patifarias.


Crónica publicada na edição 472 do Notícias de Coura, 13 de fevereiro de 2024

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Legislativas em trinta debates

Quando em novembro do ano passado Marcelo Rebelo de Sousa marcou eleições para 10 de março, invocou a estabilidade para garantir a aprovação do Orçamento de Estado para 2024. Ao mesmo tempo, dava tempo ao PS para se organizar internamente e dava também uma mãozinha ao PSD ao dar-lhe tempo para se conseguir afirmar como alternativa. Na minha opinião, o PS já se organizou (tem um líder que eu até apreciava, até às trapalhadas e irresponsabilidades que o caso TAP veio dar a conhecer), o PSD tarda em se afirmar como alternativa e vê cada dia que passa ex-militantes a transitar para o partido de André Ventura) e, aquilo que mais me aborrece, é que nos obriga a levar com mais de 4 meses de permanente campanha eleitoral.

Para ajudar ao esclarecimento do povo vamos ter trinta debates televisivos. Sim, trinta debates. Um exagero de tempo e de dinheiro, na minha opinião dois debates entre todos os partidos com representação parlamentar chegavam. Mas vamos lá então tentar adivinhar o resultados de alguns destes trinta desafios!

Partidos sem representação parlamentar: Este vai ser aquele que não quero de forma nenhuma perder, decerto dará para rir um bocado e para ficar com matéria-prima para quem sabe, escrever mais uma crónica. Ainda me lembro quando em 2022 o representante do ADN (Alternativa Democrática Nacional) participou no debate por videoconferência por se recusar a fazer o teste anticovid e dizer que a sua primeira medida seria, decretar o fim da pandemia! Estou curioso em saber quais serão as propostas do RIR, partido do Tino de Rans, uma personagem simpática e cuja simplicidade e bonomia não abunda na classe política.

PAN, IL e Livre: Nos debates que envolvem estes 3 partidos não tenho intenção de ver nenhum. Desde que João Cotrim de Figueiredo deixou a IL este partido perdeu esclarecimento, o seu novo líder, Rui Rocha tem demonstrado não ter argumentos nem capacidade de debate, basta lembrar o discurso que fez quando António Costa deixou o governo dizendo-lhe “Hasta la vista, adeus”. É demasiado mau. Já Inês Sousa Real do PAN não entusiasma nem os militantes do seu partido, a causa dos animais e da natureza é sem dúvida nobre, mas requer outro tipo de discurso e de ações. O PAN só conseguirá ter importância quando os seus votos fizerem falta para aprovar orçamentos. Quanto ao Livre, é um partido simpático, mas de propostas irreais. No entanto, para mim, Rui Tavares é o melhor orador e o mais educado dos deputados, chega até ser estranho ser político.

PCP e BE: Acredito que estes dois partidos vão ter melhores resultados, e acredito também que, a existir essa possibilidade, darão a mão ao PS para formar governo. As suas lideranças renovadas terão de ter muito cuidado e ser mais exigentes, da última vez que o fizeram foram castigados nas urnas. Estes são debates que certamente não colocarei na minha agenda.

Chega e PS: Este é o outro debate que não quero perder, tenho esperança de que Pedro Nuno Santos se irrite e parta mesmo para a agressão ao perder a paciência com as acusações que certamente André Ventura lhe irá fazer! Agora mais a sério, André Ventura acredita nas mentiras que diariamente diz e faz propostas que levariam à banca rota o país ainda de forma mais rápida e grave do que fez José Sócrates. Pedro Nuno Santos não mente, apenas diz que não se lembra, que aquela responsabilidade não era do seu Ministério ou que quem redigiu os contratos foram os serviços jurídicos. Afirma que vai fazer tudo aquilo que enquanto esteve no governo não fez. A acredita nas sondagens, o povo acredita. AD e PS: Este será o último debate, é tão importante que vai ser conduzido por três jornalistas dos 3 canais televisivos (RTP, SIC e TVI). De um lado teremos Pedro Nuno Santos a reivindicar tudo de bom que o anterior governo fez e a prometer fazer bem tudo o resto, do outro lado, Luís Montenegro a tentar dar credibilidade e entusiasmo a propostas que até são boas, mas em quem o povo não acredita. Quando se fala em governos à direita o povo lembra-se da Troika, quando se fala em governos à esquerda, o povo esquece as bancas-rotas. É curioso, mas talvez seja normal, mais depressa nos lembramos de quem nos salva do que de quem nos tenta matar. Este debate será a 19 de fevereiro, pelas minhas contas terei nesses dias de escrever mais uma crónica para o Notícias de Coura, obviamente que não me é difícil decidir qual é a tarefa mais importante.


Crónica publicada na edição 471 do Notícias de Coura, 30 de janeiro de 2024

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Previsões para 2024

A minha primeira crónica do ano anterior intitulou-se, Habituem-se. Fazia referência às palavras de António Costa numa entrevista à revisão Visão, onde fazia um balanço de nove meses de governo, afirmava que os casos e casinhos eram criações da direita e exclamava que iam ser 4 anos, teriam de se habituar. Numa altura em que o povo já estava habituado, acabou por ser António Costa a demitir-se. Desta vez, decidi dedicar esta minha primeira crónica a fazer algumas previsões. Se acertar na maioria delas a primeira crónica de 2025 será uma ode à minha capacidade de previsão, se falhar, será um lamento e uma tomada de consciência de que, em Portugal, é melhor não fazer previsões.

Futebol: Apostei as minhas fichas no Sporting no início da temporada, e em condições normais creio que será campeão. Já o meu Chaves, a menos que haja um milagre de aparecimento de bons jogadores, voltará a descer de divisão. É triste, mas a jogar assim não merece estar na 1.ª divisão. Lá fora, os jogadores portugueses continuarão a brilhar nas melhores equipas da europa, Jorge Jesus será campeão e Ronaldo voltará a calar as bocas que insistem em dizer que está acabado!

Política Nacional: A menos que ocorra algum escândalo político que liquide Luís Montenegro ou Pedro Nuno Santos, as eleições vão trazer uma indefinição política que corre o risco de colocar nas mãos de André Ventura o poder de nem viabilizar governos à direita nem à esquerda. Outra alternativa curiosa, mas que tenho muitas dúvidas que aconteça, é o povo perceber que, e acreditando nas atuais tomadas de posição dos líderes políticos, o voto no Chega é inútil, pois não é aceite pela direita para formar governo. Por fim, e a avaliar pelas sondagens e pela forma habitual que os portugueses têm em votar, não me surpreenderia que o PS voltasse a ganhar as eleições e a formar uma geringonça com o Bloco de Esquerda. Não me parece que desta vez o PCP caia na armadilha.

Política Internacional: Os Estados Unidos da América vão eleger um novo Presidente. Usar o termo novo é uma forma de expressão! Se for reeleito Joe Biden, sucederá a ele próprio como o mais velho Presidente de sempre; se for reeleito Donald Trump, ficará provado que os americanos são mesmos de outro planeta, e cometerão uma loucura novamente.

Habitação: O novo ano não trará melhorias, as taxas de juro talvez só comecem a baixar a partir do 2.º semestre, alguns senhorios continuarão a encher-se de dinheiro e muitas famílias terão a corda na garganta cada vez mais apertada. Uma das causas disto é a entrada massiva de estrangeiros em Portugal. Não vou aprofundar este assunto agora, Lisboa é uma cidade onde a quantidade de estrangeiros começa a ser um problema de segurança e de desrespeito pelos mais básicos direitos humanos. Qualquer dia, escreverei uma crónica apenas sobre isto.

Saúde: A atual situação nalguns hospitais, e em especial nos serviços de urgência é vergonhosa. Não encontro melhor palavra. Não consigo perceber como é que um governo de esquerda, com maioria absoluta, e com as contas certas, não tem o bom senso de resolver este problema. Se o país se endividar a construir hospitais e a empregar médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar, nenhum português se indignará.

Guerras: Mais tarde ou mais cedo o apoio americano à Ucrânia acabará, e pouco depois a Rússia conseguirá tomar posse dos territórios que pretende. E se calhar, daqui a alguns anos os líderes políticos europeus voltarão a sentar-se à mesa com o sr. Putin. Mais abaixo, Israel só descansará quando liquidar o Hamas, e nessa altura a Palestina estará resumida a cinzas, como lhe convém.

Educação: Não tenho paciência para este tema. Um bom ano de 2024 a todos.


Crónica publicada na edição 470 do Notícias de Coura, 16 de janeiro de 2024